Ao longo de 13 anos de experiência atuando no setor aeronáutico, em especial na aviação civil (comercial e privada) assessorando empresas e empresários em operações de compra, venda, leasing de aviões, jatos e helicópteros, tive a oportunidade de interagir com basicamente todos os setores que compõe a indústria e os mais diversos players ao redor do mundo no setor da aviação, e posso afirmar, há uma visão consistente quanto ao futuro da aviação no Brasil ser muito promissor e repleto de oportunidades a serem exploradas. Aos especialistas que trabalham no setor não estou relatando uma novidade, mas o momento é extremamente delicado, exige cautela e ações coordenadas entre indústria e governo, o que vem sendo articulado de forma constante, para superação deste momento.
O setor aéreo no Brasil, assim como de forma global, foi um dos setores mais afetados pela crise, trata-se de uma atividade extremamente complexa que compreende não apenas as companhias aéreas, mas uma cadeia de outros serviços e setores conexos, como agências de turismo, empresas de catering (alimentação a bordo), Handling (abrange todos os serviços prestados em terra para apoio às aeronaves, passageiros, bagagem, carga, etc) comissariado, entre outros, indispensável citar, as próprias fabricantes das aeronaves, estão negociando com as operadoras todas as encomendas, suspendendo até que o mercado retome suas atividades até um certo ponto de equilíbrio.
A EMBRAER é um exemplo prático da indústria brasileira com representatividade global no setor aeronáutico, que alem de estar renegociando a entrega e leasing de aeronaves, ainda sofreu o enorme impacto provocado pela decisão da gigante americana Boeing de encerrar o processo de união na área de aviação comercial. Contudo a empresa não ficou parada e voltou seus esforços junto ao mercado chinês, onde enxerga excelente oportunidade de negócio, hoje segundo maior mercado de aviação do mundo.
Segundo estimativa da ICAO (Organização Internacional da Aviação Civil), em tradução livre), as companhias aéreas podem perder de US$ 244 até US$ 420 bilhões de dólares, ou seja, mais de 1 trilhão de reais em receita operacional bruta este ano devido ao impacto da Pandemia. (fonte: ICAO – International Civil Aviation Organization – United Nations)
Infelizmente, assim como em outros setores do Brasil, o alongar da Crise, causa danos inevitáveis, como a demissão de dezenas de funcionários, podendo chegar a centenas, dependendo do tempo que perdurar a presente situação, assim como a implementação de medidas politicas e econômicas mais eficientes, não obstante, claro, o tempo para retomada da normalidade das atividades comerciais como um todo no mercado nacional.
Fato certo é que o momento deve representar um encolhimento temporário significativo para as industrias de todo setor, e por consequente, a economia nacional, haja vista o peso do setor para economia.
O quadro abaixo demonstra com maior clareza, por meio de um gráfico cronológico, um breve comparativo do impacto causado no setor aéreo pela Pandemia da COVID-19 e os últimos eventos e crises que a precederam no mundo.
(fonte: ICAO – International Civil Aviation Organization – United Nations)
Como forma de preservar o mercado e combater a crise mitigando impactos, diretos e indiretos, no setor da aviação civil, entre os meses de março e abril, o governo, após articulações com representantes das principais empresas do setor, lançou três medidas editadas por meio de Medida Provisória (MP) e Decreto que atingem companhias, aeroportos e passageiros, tais como:
(a) postergação do recolhimento das tarifas de navegação aérea;
(b) adiamento do pagamento das outorgas aeroportuárias sem cobrança de multas; e
(c) prorrogação das obrigações de reembolso das empresas aéreas.
As companhias aéreas desde então, vem aplicando aos consumidores isenções das penalidades contratuais, mediante a aceitação de crédito para utilização futura, preservando assim seus caixa como forma de preservação do negocio, alem de criar uma situação “win-win” (ganha-ganha) onde todos se ajudam no momento, e ninguém perder, empresa, consumidor e mercado.
Ainda esperamos muitas medidas por parte do governo para socorrer o setor, inclusive, muitas delas, que já eram reivindicadas tempos antes da crise, como exemplo, redução de carga tributária sobre COMBUSTÍVEL, um dos itens principais na atividade das companhias que mais oneram suas operações, lembrando que os maiores custos destas empresas são dolarizados, ja suas receitas, em moeda corrente nacional, é uma briga desleal para sobreviver e ainda, ter de ser competitivo frente ao mercado, é um jogo de xadrez diário.
As empresas aéreas vem estudando e revisando seus planejamentos constantemente, com grande parte de suas frotas de aviões no chão, drástica queda na procura por venda de voos e, medidas de segurança que atualmente impedem a utilização de grande parte dos assentos das aeronaves como forma de preservar o distanciamento, as empresa continuam a atender, mesmo que de forma reduzida, alguns destinos domésticos, ajustando-se a cada dia, de acordo com as adversidades que se formam diante do atual cenário.
Umas das alternativas adotadas por algumas empresas aéreas para enfrentar a queda de receita decorrente de voos com passageiros, foi adapatar aviões de passageiros, para transporte cargas, setor que, felizmente, teve aumento na demanda, o que ajudou, mas ainda não é suficiente para suprir o grande lapso das receitas decorrentes dos voos regulares das aéreas.
A interação entre governo e empresas do setor vem intensificando, diariamente, o dialogo para elaboração e implementação de mais medidas ao setor, com apoio da ANAC (Agencia Nacional da Aviação Civil), e constante atuação das principais empresas aéreas, que vem conversando entre si, em breve devemos ter mais um pacote de medidas para socorrer, preservar e dar maior suporte e condições ao desenvolvimento das atividades, presentes e futuras do setor.
A flexibilização nas tarifas aeroportuárias, custos burocráticos gerados em decorrência das estruturas dos aeroportos, impostos, revisão de limite de carga de horas trabalhadas para jornadas da equipe de bordo (pilotos e comissários), entre outras medidas, já eram necessárias, agora, suas revisões são inevitáveis.
A TAM, como um exemplo pratico, para poder operar seu voo direto de São Paulo – Tel Aviv (Israel), não podia fazer com uma equipe brasileira, porque excedia o máximo de horas permitido por lei, como solução, operava o voo com uma aeronave que vinha do Chile, com equipe de bordo chilena.
Empresas que estão trazendo equipamentos médicos da China para combater o Coronavirus, como exemplo, a Azul, não poderia fazer um voo direto Brasil-China, pela limitação de horas, teve de obter autorização especial para execução da operação, é prova de que temos muito para mudar, que estamos, ainda, décadas atrasados em relação ao mercado de outros países.
O futuro da aviação, como dito no inicio deste artigo, pode ser muito promissor, já tivemos avanços significativos, como a alteração da lei que permite a participação de até 100% de capital estrangeiro nas companhias aéreas brasileiras, porem enquanto não houverem medidas efetivas de desburocratização e desoneração, criando facilidades e maior eficiência para o setor, o mercado fica prejudicado e sem atrativos. Podemos utilizar como exemplo o caso da AVIANCA, à época entre as melhores aéreas do pais, foi sucumbida, e mesmo com a possibilidade legal de ingresso de até 100% de capital estrangeiro para eventualmente assumi-la, como “oportunidade” de entrada no mercado nacional com uma fatia relevante, nada ocorreu, haja vista a complexidade e risco que até então, as estrangeiras consideravam altos para investir e atuar no mercado brasileiro de forma direta.
A CRISE, apesar dos severos impactos pode sim ser uma porta para acelerar o FUTURO das OPORTUNIDADES que o setor tanto vem almejando por anos, as empresas do setor e o governo vem articulando constantemente sobre uma serie de medidas emergências para atender socorrer o setor, algumas das medidas visam obviamente o folego financeiro para preservar os caixas das empresas, outras que já vem sendo discutidas de longa data, tratam de flexibilização e desoneração, que ajudaria o setor não apenas neste momento, mas perpetuariam de forma benéfica no futuro, para todo desenvolvimento do setor no Brasil, impactando positivamente empresas, e por consequente, o consumidor. Contudo, o momento ainda é extremamente delicado, de muita cautela e ações imediatistas e coordenadas, tanto da indústria, quanto do governo para que o setor possa sobrevir este momento de forma perene e chegar saudável para tomar proveito de tais oportunidades e coloca-las em pratica.
Sem duvidas, com a retomada e reabertura dos mercados, é certo que os preços das passagens, inicialmente sejam mais elevados, é uma questão de equilíbrio econômico e operacional, a lei de oferta e demanda não vai mudar, as pessoas irão se recompor economicamente, e naturalmente os serviços aéreos serão, provavelmente, mais utilizados por necessidade, como questões comerciais, mas ao passo em que a economia se recuperar, a demanda dos passageiros que já eram recorrentes, certamente será retomada, inclusive, poderá haver incremento significativo desta demanda, o que determinará o tempo e a forma que isso irá ocorrer, depende das medidas e ações tomadas neste momento.
Não obstante, certamente com o passar desta CRISE, e com as novas medidas implementadas refletindo no futuro, teremos uma aviação comercial mais competitiva, uma vez que, teremos de fato mais empresas estrangeiras ingressando para atuar no mercado brasileiro.
O Brasil é continental, somente em termos de desenvolvimento de infraestrutura para o setor, temos oportunidades ainda não exploradas que equivalem entre cerca de 30 a 40 anos de atraso, quando comparamos com o mercado equivalentes de outros países, isso porque já melhoramos muito nos últimos 5 anos.
Por fim, tão relevante quanto a aviação comercial, não poderia deixar de citar o MERCADOS DE AVIAÇÃO PRIVADA, o Brasil é um pais com relevância global neste mercado, detendo a segunda maior frota de aeronaves executivas do mundo, que neste momento, a CRISE também está impactando negativamente, mas ao mesmo tempo, gera uma gama de cenários de OPORTUNIDADES para o mercado, e não digo apenas no sentido compra e venda destes equipamentos por valores abaixo do mercado, mas no sentido de dar condições adequadas e estruturar operações que utilizem estes equipamentos para que possam gerar valor econômico, retorno financeiro aos seus proprietários, o que é totalmente factível, participei da criação de muitos tipos de negócios relacionados ao setor, e tenho certeza que temos como usar este momento para criar mais oportunidades, inovar estruturas e criar valor!
Assim como na aviação comercial, oportunidades de investimento no desenvolvimento de infraestrutura no setor executivo/privado, são enormes, e muitas empresas que estavam atentas a este mercado, devem retomar, e caso não retomem em razão da crise, certamente surgirão novos interessados, o setor é tem um alto potencial lucrativo se explorado de forma adequada estruturada.
Seguimos acompanhando os desdobramentos da crise e os impactos no setor, no Brasil e no exterior, buscando caminhos e criando soluções para atender nosso clientes, o setor no Brasil é muito forte, e estamos certo que após a retomada, vai crescer muito, bem como as empresas na atuam no segmento de prestação de serviços relacionados ao setor.
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